Lagoa Santa

Apresenta a História da ocupação recente da região e da formação da Cidade de Lagoa Santa; as pesquisas e descobertas empreendidas pelo dinamarquês Peter Wilhelm Lund; o histórico das pesquisas arqueológicas e informações sobre as primeiras ocupações humanas na região; a História da Batalha de Lagoa Santa na revolução de 1842.

Município de Lagoa Santa

 

Orla da Lagoa Central
(Imagem: Lagoa Central)

 

Lagoa Santa é um município brasileiro do estado de Minas Gerais, localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A cidade encontra-se a 800 metros de altitude, possui 229,4 km² de área. No censo 2010 apresenta uma população de 52.520 habitantes (IBGE/2010) com estimativas de 63.359 habitantes para 2018 (IBGE). Está localizada a 35 km de Belo Horizonte, 776 km de Brasília, 553 km do Rio de Janeiro e 641 km de São Paulo. É uma região calcária situada na Bacia Média do Rio das Velhas. A região é formada por Planaltos com relevos pouco acentuados, clima tropical e temperatura média anual de 22º.

Lagoa Santa chama atenção por se situar em uma região de relevo cárstico, apresentando notório patrimônio natural, arqueológico, paleontológico, espeleológico, histórico e cultural. As descobertas e pesquisas científicas empreendidas na região desde o séc. XIX elevaram a cidade à nível internacional, constituindo uma área de grande importância científica. Os trabalhos aqui realizados contribuíram para diversos ramos do conhecimento, com estudos de relevância nas áreas de arqueologia, paleontologia, antropologia, espeleologia, botânica, ecologia etc.

 

Patrimônio Arqueológico – Primeiras Ocupações Humanas

 

A região de Lagoa Santa se destaca em função do seu rico patrimônio arqueológico e paleontológico, contando com mais de 180 anos de pesquisas, e registros de ocupações humanas que remontam a 11.500 anos atrás. São diversos os vestígios e achados arqueológicos na região, que teve seus primeiros estudos realizados pelo dinamarquês Peter Wilhelm Lund no século XIX.

 

PETER WILHELM LUND

Peter Wilhelm Lund ( Fotografia de Eugene Warming)
(Imagem: Lund)

 

Nascido em Copenhague o naturalista Peter Wilhelm Lund chegou ao Brasil pela primeira vez, em 1825. Durante sua primeira estadia, que durou até 1829, ele se dedicou a coleta e estudo de espécimes de formigas, moluscos e urubus nos arredores da cidade do Rio de Janeiro.

Após passar quatro anos na Europa, mostrando a seus pares o resultado de suas pesquisas nos trópicos, Lund retornou ao Brasil. Entretanto, na segunda visita, ele não se alojou no litoral, mas sim no interior do Estado de Minas Gerais, na região de Lagoa Santa.

Dr Lund também conhecido como pai da paleontologia brasileira residiu em Lagoa Santa por 44 anos, onde desenvolveu uma série de estudos, tendo visitado diversas grutas e reunido um expressivo acervo de achados paleontológicos. Suas pesquisas na região deram e ainda dão visibilidade ao município em escala internacional, principalmente pela quantidade e significância desse acervo. Entre os achados de maior destaque do dinamarquês estão diversas espécies da Antiga Fauna da Região (Megafauna), como o Tigre Dentes de Sabre e a Preguiça Gigante; e ossadas humanas do “Homem de Lagoa Santa”.

 

Peter Wilhelm Lund na Lapa Vermelha (Arte de Peter Andreas Brandt)
(Imagem: Lapa Vermelha)

 

Lund estava acompanhado do norueguês Peter Andreas Brandt, um exímio artista, que além de registrar as escavações e achados operados pelo dinamarquês, deixou também um belo registro das paisagens da região de Lagoa Santa no séc. XIX.

Após a morte de Brandt, a convite do próprio Lund o Botânico Eugene Warming vem para região, residindo aqui por 3 anos (entre 1863 e 1866) e desenvolvendo estudos pioneiros sobre as espécies do cerrado da região, que tanto chamaram a atenção de Lund. Além de Warming diversos outros estudiosos e naturalistas passaram pela região no Século XIX, como Burmeister, Richard Burton, Agassiz, Riedel, dentre outros.

Os estudos de Lund foram pioneiros e sem dúvida contribuíram de forma significativa para diversas áreas do conhecimento, como a Paleontologia, Espeleologia, Arqueologia e Antropologia. Suas pesquisas e análises também foram de enorme importância para a Teoria de Evolução das Espécies, publicada em 1859 por Charles Darwin.

Lund realmente criou um vínculo com a região, com uma contribuição foi além da esfera científica, exemplo disso é a criação do primeiro Grupo Musical da cidade, a Banda Santa Cecília em 1842. Ele também demonstrou a vontade de ser sepultado em Lagoa Santa, adquirindo um terreno afastado do centro da cidade, local onde o mesmo costumava fazer suas leituras a sombra de um pequizeiro. Quando seu companheiro Peter Andreas Brandt falece, é enterrado nesse local, assim como outros colaboradores de Lund, como Wilhelm Behrens e Johann Rudolph Muller. Lund permanece em Lagoa Santa até sua morte em 1880, sendo sepultado no mesmo local que seus colaboradores. Hoje o lugar de descanso de Lund o “Cemitério Dr. Lund” é um atrativo de turístico, e ainda conserva o pequizeiro onde sob a sombra fazia suas leituras.

O pesquisador deixou diversas influências e contribuições na cidade, tornando a mesma reconhecida a nível internacional. Sua intensa relação de admiração e identificação com Lagoa Santa se resume na frase do próprio dinamarquês: “Aqui sim é um bom lugar para se viver”.

 

Seguindo o Caminho de Lund…

 

Na primeira metade do século XX, várias pesquisas foram desenvolvidas na região com o objetivo de elucidar a questão aventada por Lund acerca da contemporaneidade do homem com megafauna. 1909 Cássio H. Lannari, amador, escava na gruta de cerca grande, ele era proprietário da Fazenda Mocambo, onde localiza a Gruta de Cerca Grande.

Em 1926 Padberg Drenkpol e Bastos D`Àvila , dirigiu expedições do Museu Nacional na Região, não encontraram dados para comprovar a contemporaneidade. Os seus relatórios não foram publicados.

A missão Americano-Brasileira em 1956 a liderada por Wesley Hurt empreendeu pesquisas nos sítios arqueológicos de Cerca Grande e Lapa de Boleiras na região arqueológica de Lagoa Santa, encontraram vários esqueletos que forneceram uma data para as ocupações mais antigas na região em torno de 10 mil anos (Hurt & Blasi,1969). Outras pesquisas foram realizadas pela Academia de Ciências de Minas Gerais, onde Harold Walter, Arnaldo Cathoud e Anibal Matos escavaram várias grutas e abrigos desde 1933, reunindo uma significativa coleção de ossos e publicando sobre seus achados até 1970.

No início da década de 1970 ocorreram, na região, pesquisas da missão franco-brasileira, coordenada pela arqueóloga francesa Annette Laming Emperaire, e com a participação de diversos arqueólogos, brasileiros e franceses. As pesquisas e escavações feitas por essa missão foram realizadas na Lapa Vermelha IV, e renderam um dos achados de maior destaque na região, um crânio humano que posteriormente seria conhecido na mídia como Luzia.

Foram estudos realizados por Walter Neves, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP/SP, que analisaram características importantes das populações antigas de Lagoa Santa, apontando uma semelhança na morfologia craniana com grupos africanos e aborígenes australianos. Através desses estudos Walter Neves batizou o crânio encontrado pela missão franco-brasileira na década de 70, com datações de 11.500 anos, de “Luzia”, sendo esse um dos fósseis humanos mais antigos a serem encontrados na América do Sul.

Segundo os indícios, as populações dessa primeira ocupação se caracterizavam como caçadores/coletores, apresentando uma dieta a base da coleta de frutas/vegetais e da caça. Posteriormente as primeiras levas humanas foram absorvidas e/ou dizimadas com a chegada de novos grupos à região. Esses grupos desenvolveram as indústrias líticas e cerâmicas, além da prática da arte rupestre. Diversas são as evidências dessas manifestações culturais na região arqueológica de Lagoa Santa, presentes em vários sítios arqueológicos, destacando-se entre eles; Lapa Vermelha IV, Cerca Grande e Gruta do Sumidouro.

Entre 2001 e 2009, mais pesquisas foram desenvolvidas na região, através do “Projeto Origens e Microevolução do Homem na América: Uma Abordagem Paleoantropológica", realizadas pelo Laboratório de Estudos Evolutivos da USP, sob coordenação do Prof. Walter Neves. Esse projeto contemplou a escavação dos Sítios arqueológicos da Lapa das Boleiras, e Lapa do Santo ambos na região arqueológica de Lagoa Santa.

Em 2011 dando sequência a esses estudos, mais pesquisas foram realizadas através do projeto “Morte e vida na Lapa do Santo: uma biografia arqueológica do povo de Luzia”, coordenado pelos pesquisadores André Strauss, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/USP), e Rodrigo de Oliveira, do Instituto de Biociências(USP). Essas pesquisas estão com foco na saúde e nas práticas funerárias desses antigos grupos. Os estudos já renderam diversos achados de destaque, com sepultamentos que chegam a cerca de 10.000 anos atrás, incluindo o caso mais antigo de decapitação humana encontrado até hoje nas Américas.

 

Escavações na Lapa do Santo
(Imagem: Lapa do Santo1)